17/10/06

Sê teu filho

A razão pela qual recuso o existencialismo apenas como mais uma moda francesa ou uma curiosidade histórica é porque penso que ainda tem muito para nos dar... Receio que estejamos a perder o bom que é viver apaixonadamente, de sermos responsáveis pelo que somos, a capacidade para fazermos algo de/por/para nós próprios, e de estarmos de bem com a vida. O existencialismo é visto frequentemente como uma filosofia do desespero, ou uma metafísica da esperança, mas penso que na verdade é exactamente o oposto.Quando se fala da pessoa como produto social, ou como confluência de forças, fragmentada ou marginalizada, o que se faz é criar um enorme mundo de desculpas. E quando Sartre fala de responsabilidade, não se está a referir a nenhuma abstracção; é algo de muito concreto, como estar aqui a escrever, da mesma maneira que poderia estar a fazer outra coisa qualquer; ou como estares aqui a ler isto em vez de fazer outra coisa qualquer.. Trata-se de tomar decisões, de fazer coisas e sofrer as consequências disso.Mesmo existindo seis biliões de pessoas no mundo, o que tu fizeres faz a diferença, desde logo em termos materiais.Faz a diferença, em relação aos outros, e constitui um exemplo.Resumindo, penso que a mensagem disto é que nunca nos devemos pôr à margem ou vermo-nos como vítimas das mais variadas forças.Somos sempre as nossas próprias decisões.

E a propósito:

"Nunca a alheia vontade, inda que grata,
Cumpras como própria.
Manda no que fazes
Nem de ti sejas servo.
Ninguém te dá quem és.
Nada te mude.
Teu íntimo destino involuntário
Cumpre alto.
Sê teu filho."

[Fernando Pessoa]

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