19/10/06

Perspectivas

Porque é que de repente me vejo cárcere desta geometria sináptica, deste esforço arquitectado para ficar inerte a tudo? Ainda que tentando tomar a razão por aliada, as ideias congestionam-se e não consigo discernir uma conclusão de todas as barreiras que a mente cria. A prisão da própria forma de pensar! E que forma é essa? Devo tomá-la por dádiva? Por fardo? Vejo-me assim, insubordinado ao mundo e às suas leis e irónicas imposições, tendo por alento apenas o refúgio da esfera mental. E no meu pensar consigo despir-me, mais do que dos preconceitos, de ser humano; consigo observar-me de outra galáxia e ver o pensamento já a formar-se como se nem fosse meu, mas do corpo que uso para pensar, num exercício de distanciamento que sempre tive como fundamental para uma leitura mais precisa de tudo. É como tentar ler o jornal com os olhos muito perto do papel, perde-se em clareza, em foco, em perspectiva. Perspectiva: uma das minhas palavras e noções favoritas. Que tudo é perspectiva; ver ou não ver, sentir ou não sentir.. é o que faz a diferença, e não o que eventualmente seja real ou não (Pff.. real, é melhor nem entrar por aí..). E depois surge esta vontade de comunicar.. mas as palavras apelam a algo já de si indizível, tão meu que teria de encomendar o meu próprio dicionário para o expressar convenientemente. Um momento de eloquência vale ouro! Há sempre a esperança que se reconheça o dialecto e haja identificação naquilo de que as mesmas palavras estão imbuídas.. Ás vezes apenas um breve instante de pragmatismo, um je ne sais quoi individual que se pode partilhar, uma nuance.. Não é perfeito, mas importa-me mais essa partilha que a tantas vezes insignificante forma de nos termos uns aos outros no dia-a-dia.E sempre com aquela dose bem-disposta de deambulação humorística pelos assuntos, a revestir de risível essas mesmas seriedades, para que nada seja levado demasiado a sério. Afinal de contas, o humor é o pátio de recreio da inteligência... De facto há poucas coisas que mostrem tanto o relevo da personalidade e da consciência...
No fim de contas, a única coisa em que consigo pensar é em como esta noção do eu, aquilo que somos, é apenas uma estrutura lógica(?), um abrigo momentâneo para todas as abstracções.. no controlo de impulsos contraditórios.. A ideia será talvez mantermo-nos num estado de partida e chegada constantes. Poupa-se tempo nas apresentações e nas despedidas.A viagem não precisa de explicações, e o mar nunca recusa um rio.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial