13/11/06

Porque ás vezes não sei falar na língua em que penso...

Talvez haja mais mensagem no subtil do silêncio inclinado de um não-dito, como no branco que fica do papel em que se escreve, do que no anúncio incompletamente cogitado e vago de uma ideia. Há demasiada informação erodida até só no acto de pensar um pensamento ou de sentir um sentimento. Gastamo-lo de ser nosso e de o ter numa dada altura, atribuindo-lhe imperfeição, sacrificando o conceito inenarrável à tentativa de exprimi-lo. É um dilema de perfeccionismo, uma faca de dois gumes: se por um lado a linguagem surge pela necessidade de comunicação, ao mesmo tempo acaba por subverter essa fuga da abstracção. E há todo um universo de subjectividade até só num "sim", num "pois" ou num "fui para casa às três da tarde" que a própria linguagem ás vezes me parece mais um muro de opacidade a rodear a totalidade suspensa das minhas intenções, do que o canal necessário para as verbalizar. Parece-me que há uma especificidade progressiva nesta história da linguagem, uma necessidade de condensar as aptidões de inteligência e habilidade para dar num crescendo de manifestação instantânea do potencial, na amplificação máxima do indivíduo, ou na subdivisão em "existências" individuais(f.p.), neste último caso, de modo a não ter que tratar algo no seu uníssono de visões e, à boa maneira do "divide and conquer", tratar cada uma de uma forma mais inteira.. Mas não sei, não acho que transformar uma imagem num puzzle e observar cada peça individual e minuciosamente seja a premissa necessária. No fundo depois dessa desconstrução e reconstrução, a imagem que surge é a de nós mesmos a montar o tal puzzle, desfigurando a suposta identidade a descobrir e manifestar num caleidoscópio interminável de eus. Acho que prefiro o traço imperfeito, o risco calculado... E pensando bem até há algo no rigor que não me seduz, talvez uma ausência de ansiedade.. Sempre haverá naufrágios no que dizemos e fazemos e acabam por ser também um ingrediente essencial na matéria invisível do poema vivido. Nessa aceitação serena (não resignação) do desconhecido, do que não se controla, é que talvez se forme o túnel de luz por onde podemos levar uma vida, ainda que não exacta no seu traçado, plena nos seus significados...

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