21/11/06

Quem anda à chuva molha-se

É estranho ver as coisas assim a mudar, é estranho agora pensar no bem que me fez o mal que me fizeste e entender tudo como apenas mais outra nova lição que me trouxe aos dias de hoje. Lembro-me de pensar, com tanta pena e nostalgia, nos dias que não viriam, e achar, com uma distância de estrelas, que em breve também seriamos outono. Gostar de ti era como respirar debaixo de água, e toda a vida era apenas o que nós sabíamos. Hoje no entanto tudo tem a complacência de um entardecer a insinuar um eco ausente, de dever ter entendido melhor o contexto perene das palavras. E vieram morar em cada um de nós novas pessoas que já não se conhecem, que eclipsaram qualquer tradução coerente dos seus passados com uma recusa inexpugnável. Porque depois é fácil a negação plausível das profundidades que atingimos e há afinal um arrependimento. No fundo só procuravamos encontrar a manhã de transparência que nos fizesse aceitar, e ela surgiu, apenas quando já podiamos desmentir os contratempos, largar a pele e fazer de novo. Só veio quando a dor já dormia no meu colo como um animal de companhia. Sim, o que queremos tão pouco é aquilo que precisamos. O remédio para a dor foi a própria dor. E agora a sua ausência até é estranha. Afinal todos falam de liberdade, mas até esta pode ser uma prisão se nada nos dissolve além das abruptas margens dos sentidos... Ultimamente tudo teve o seu golpe de estranheza como se não andasse num mundo real e objectivo. Apesar de tudo acordar é sempre bom quando a chuva me faz companhia, a cair de propósito e a deixar-me ancorar em si a breve errância matinal.
E já não fico tão à prova de sentimentos..

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Conseguiste criar uma imagem tão simples, mas ao mesmo tempo tão forte. Hei-de voltar e ler-te com a atenção que mereces. Por hoje deixo-te um aplauso de pé pela forma como escreves o teu mundo (a escolha do preto como fundo é óptima, sinto-me como se estivesse em casa =) ) ***

11 de junho de 2007 às 00:42  

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