04/12/06

Intervalo

Às vezes do fundo das ideias vem uma brisa que parece nascer do nada, uma espécie de conjugação de verbos desconhecidos, uma procura que poderia conduzir a algo, nem que fosse tão somente ao mesmo, mas tendo a certeza que houve uma procura, de que se caminhou, nem que em direcção à pura simplicidade do nada. Apenas em mais uma tentativa de pronunciar o mundo, de uma forma íntegra, dotada de unidade como um organismo vivo. E nessas alturas percebe-se bem a natureza escalar e contrastante da forma como vemos as coisas, e notamos não só as presenças de tudo, mas as ausências que lhes servem de pano de fundo; e o escuro de repente é uma mentira contada apenas aos nossos olhos e percebemos o interstício onde a respiração do mundo se sustém; aquilo a que chamamos silêncio... Subitamente é possível entrar numa espécie de omnipresença, numa arrítmia de trajecto vário, e entra-se em longos diálogos com os indizíveis a que não se pode dar forma tantas vezes, de frágeis que são os ramos em que poisam.. É assim que as verdades se encontram, sem corrimão, sem legados, com aquela poderosa arma que é a imaginação, a pulverizar as escalas, a destituir as classificações arbitrárias, usando apenas da elegância natural da mente como ferramenta na busca de um valor definitivo. Ainda que este só dure um instante luminoso já valeu a pena e já é mais fácil dormir tendo por companhia uma nova transparência de convicção. O apelo a uma relação mais primordial entre chão firme e vertigem para que o sonho que aí vem seja destituído de noções que não são o que querem significar; para de uma forma mais voluntária, adormecer como quem inventou o próprio intervalo em que repousa..

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